Dr. Sisnando Lima. Santa Barbara, 8/8 /41.
Carta aberta ao Dr. Jorge Watt, Delegado Regional do Reconcavo Bahiano
Saudações. Residindo nesta localidade ha tres anos, tenho verificado o inegavel progresso que, sem favor, a atual administração soube imprimir ao Distrito, impulsionando melhoramentos urbanos, transmitindo ao povo o entusiasmo e a fé no brilhante futuro da sua terra natal. E’ pena que, á sombra de tais empreendimentos, vicejem fatos que, provavelmente, escapam ao seu (dela) conhecimento, deprimindo a localidade, fazendo-a regredir, empanando o brilho dos seus triunfos. A pratica ilegal da medicina tem sido um dos crimes que mais têm preocupado V. Excia. e na repressão do mesmo V. Excia. tem agido com justiça e energia. Não fôra a ameaça de uma nevrose coletiva, não estaria a ventilar este assunto, solicitando de V. Excia. medidas drasticas que julgo imprecindiveis para o momento atual. Até agora vinha encarando o fato como fonte de estudos sociais, analisando as suas causas remotas, buscando a sua origem, principalmente na transladação “ex-abrupto” do selvagem africano, para o seio de uma civilização adiantada. Nivelado ao seu antigo senhor pela abolição, de inteligencia rudimentar, eivados de crenças e surpertições abraçando uma religião monoteista, apanagio dos povos cultos, o seu espirito atrofiado, torturado, não se poderia librar ás belezas metafisicas do cristianismo e qual novo Ícaro, caiu de azas partidas e rolou pelos cultos totêmicos do animismo fetichista primitivo. O Prof. Nina Rodrigues provou exaustivamente a frequencia da Paranoia nos negros e mestiços brasileiros. E’ bem de ver que tais fatôres condicionarão forçosamente, “alta copia” de iluminados, entendidos e outros que tais arrebanhando massas populares in-concientes, a praticas avatares de deploraveis consequencias. Problema complexo, a depender de causas etnicas, sociais e climortéricas, é claro, sua solução não se dará por medidas policiais mais ou menos energicas. E ao encaminhar estas linhas a V. Excia. não desejo apresentar sugestões, não incrimino ninguem, não pretendo pontificiar doutrinas— cumpro o que julgo, o meu dever, chamando a atenção dos poderes competentes para estas praticas que desabonam nossos fóros de civilização e ao memo tempo faço ver aos colegas, o meu protesto contra praticas que lesam as prerogativas da nossa classe. Recorrendo a V. Excia. tenho a certeza de que sabereis com justiça, tacto e ponderação, antepôr um dique á onda avassaladora de barbaria que ora nos ameaça, para que, detida a avalanche, possam os sociologos drenar o pántano e sobre ele aspergir as luzes ubérrimas da civilização. Sirvo-me da presente para manifestar a V. Excia. os meus protestos de admiração e estima.
Santa Barbara, 8/8 /41.
N. 5427—1—1. Folha do Norte, 09 de Agosto de 1941, p.04 (continuação)
FUENTE: Jornal “FOLHA DO NORTE” Cartas de leitores e redatores 1909-1997 , Organização
Zenaide de Oliveira Novais Carneiro, TRANSCRIÇÃO (1909-1950) Lorena Rosa Santos, Mônica Araújo Cruz, (1951-1997) Tárcia Priscila Lima Dória, Feira de Santana, 2008
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