Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas ,Curso de Pós-Graduação em Sociologia Urbana
ENTRE O BATUQUE E A NAVALHA
Fábio Oliveira Pavão
Rio de Janeiro, Junho de 2004
Capítulo 03 - A “Violência horizontal”
3.1 – Violência e classes populares
Para coibir o “Capoeira”, o código criminal do império, de 1830, determinava que era proibido “fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação de ”capoeiragem”. Uma outra passagem do código estabelecia a proibição de “andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal” (Fausto, 1983:200).
A temível presença do “Capoeira” se estendeu de fins do século XVIII até o início do século XX. De sua influência, surgiram a banda e a figura do Batuqueiro, que herdou o brinco como símbolo da valentia (Araújo: 1978: 27).
Hiram Araújo (2000), apresenta o cenário das chamadas rodas de batuque, populares entre as classes pobres do Rio de Janeiro:
De repente, era uma navalha que brilhava a luz dos lampiões e um batuqueiro que caía ensangüentado, enquanto o coro abafava os gemidos da vítima cantando: ‘pau rolou...caiu!
Lá nas matas ninguém viu...’ (pg.148)
As rodas de batucada, este divertimento associado à violência, serão analisadas mais adiante, porém, vale a pena nos anteciparmos um pouco e conferir a definição de Sandroni para esta prática:
Um jogo de destreza corporal, variante da capoeira, que foi popular no Rio de Janeiro. Pode ser considerada também como uma variante do samba-de- umbigada definido por Carneiro, pois consistia numa roda, como os usuais cantos responsoriais e palmas dos participantes, onde a umbigada era substituída pela pernada, golpe com a perna visando derrubar o parceiro, o qual, se conseguisse se manter de pé, ganhava o direito de aplicar a próxima pernada no parceiro que escolhesse. A batucada se diferencia dos outros sambas-de-umbigada por sua componente violenta (2001:103).
Capítulo 04 – O “espetáculo da malandragem”
4.1 – O palco e seus atores
Uma das formas mais comuns de expressões lúdicas é o “desafio”, onde a passagem para uma situação de agressão é rápida e contínua. Nele “amigos metamorfoseiam-se em inimigos no curso de brincadeiras que, insensivelmente, derivam para desavenças, constituindo umas e outras quase que formas polares de expressão do mesmo tipo de relações”. O “desafio” que aparece nas
situações lúdicas, nos centros de sociabilidade das classes pobres, forma um elo de ligação entre diversão e agressão. Nessas classes, na interpretação de Franco, os temas de recreação estariam baseados principalmente no confronto entre personalidades que se medem (1974: 38,39 e 40).
Esses confrontos aparecem, por exemplo, quando analisamos as famosas rodas de batuqueiro, como Candeia Filho (1978) nos mostra:
O samba-duro é um tipo de samba partido alto. Caracteriza-se pela violência em suas apresentações. Formavam-se círculos com o ritmo marcado pela palma da mão. O mais importante não era o samba de partido alto cantado, mas sim, a ginga do malandro, a rasteira ou pernada surgida da brincadeira. O samba-duro também chamado de roda de “batuqueiros”, existia na Balança (Praça Onze), nas festas da Penha (1978:57).
Nas “rodas de batuqueiro”, assim como nas demais manifestações da Praça Onze, o “desafio” se fazia presente como forma de disputa entre amigos, muitas vezes através da violência. O confronto revelava atributos destacados da personalidade, propiciando a valorização de aspectos como valentia, coragem, força e outros valores.
Ari Araújo, por sua vez, apresentou um pouco do que acontecia nas antigas disputas entre batuqueiros:
“O ponto de honra era não cair. Era tornar-se conhecido como perna santa, ou seja, aquele a
quem ninguém consegue derrubar venha como vier: de banda de frente, banda jogada, banda de lado, etc.” (1978:27).
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jueves, 22 de octubre de 2009
ENTRE O BATUQUE E A NAVALHA
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