ENTRE O BATUQUE E A NAVALHA
Fábio Oliveira Pavão
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Pós-Graduação em Sociologia Urbana
Rio de Janeiro, Junho de 2004
Segundo Franco, os ambientes de lazer são propícios para reacender antigas disputas ou deflagrar antagonismos, quando se descobre o vivo espírito de provocações que está na base do divertimento. Uma das formas mais comuns de expressões lúdicas é o "desafio", onde a passagem para uma situação de agressão é rápida e contínua. Nele "amigos metamorfoseiam-se em inimigos no curso de brincadeiras que, insensivelmente, derivam para desavenças, constituindo umas e outras quase que formas polares de expressão do mesmo tipo de relações". O "desafio" que aparece nas situações lúdicas, nos centros de sociabilidade das classes pobres, forma um elo de ligação entre diversão e agressão. Nessas classes, na interpretação de Franco, os temas de recreação estariam baseados principalmente no confronto entre personalidades que se medem (1974: 38,39 e 40).
Esses confrontos aparecem, por exemplo, quando analisamos as famosas rodas de batuqueiro, como Candeia Filho (1978) nos mostra:
O samba-duro é um tipo de samba partido alto. Caracteriza-se pela violência em suas apresentações. Formavam-se círculos com o ritmo marcado pela palma da mão. O mais importante não era o samba de partido alto cantado, mas sim, a ginga do malandro, a rasteira ou pernada surgida da brincadeira. O samba-duro também chamado de roda de "batuqueiros", existia na Balança (Praça Onze), nas festas da Penha (1978:57).
..................................Santos já mostrara que na praça XI não se fazia apenas sambas, todos também tinham que provar que eram valentes (1998: 125). Ari Araújo, por sua vez, apresentou um pouco do que acontecia nas antigas disputas entre batuqueiros:
"O ponto de honra era não cair. Era tornar-se conhecido como perna santa, ou seja, aquele a quem ninguém consegue derrubar venha como vier: de banda de frente, banda jogada, banda de lado, etc." (1978:27).
http://www.academiadosamba.com.br/monografias/fabiopavao-1.pdf
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Os elementos fundamentais da música africana são: a) rítmico-percussivo (instrumental); b) coreográfico (danças); c) místico-religioso (rituais, cerimônias, transe); d) vocal (canto coral, “iteração”); e) lexical (idioma, fonética, onomatopéias); f) humorístico (pantomimas, mímicas). Seus instrumentos primitivos eram: palmas, assobio castanholas (estalando os dedos), atabaques (tambaques) quadrados, canza (reco -reco), marimbas com coité, berimbaus (rucunco na Bahia), marimbau, tambor de onça (maranhão – época natalina), matungo (cuia com tiras de ferro harmônicas)..
ResponderEliminarTodas as danças citadas são derivadas, porém, de um mesmo eixo rítmico firmado no Batuque, sob a perspectiva de um elo rítmico de dominância Congo/Angola. Este originou a dança de roda, onde o sagrado e o profano fundiram-se num amálgama rítmico no qual o tambor, figura imprescindível nessas práticas musicais, fazendo-se bater, influenciou de forma determinante comportamentos humanos, ações e re ações psico-sociais. No candomblé, com os: bater das palmas , bater no gã (campânula de ferro) com uma baqueta em ferro, brandir do adjá (sino para fazer “cair no santo”), bater nos atabaques (rum, rumpi e lé) para acompanhar os cânticos e os gestuais dedicados aos Orixás. Na capoeira, com o bater: nos atabaques (Angola), nos pandeiros, na vareta do berimbau (contra o fio de aço), no caxixi, eram acompanhados os passos de defesa pessoal, com trejeitos de ginga (insinuando dança), volteios, simulações, jogo perigoso de corpo, pernadas - mais tarde conhecidas como “batucada brava” que era praticada por negros ex-escravos. Estes conservavam a utilização desses movimentos para sua defesa, relembrando quando eram perseguidos pelos senhores de engenho.
grifo: http://www2.metodista.br/unesco/1_Celacom%202009/arquivos/Trabalhos/Nicia_Batuque.pdf