sábado, 19 de diciembre de 2009

TIRIRICA DE SAO PAULO

Texto a ser apresentado no VIII Encontro Regional Sudeste de História Oral.
Simpósio - Historia Oral: Teoria e Metodologia
SANTOS, André Augusto de Oliveira, Unicamp, estudante de graduação, Fapesp, Reflexões sobre o uso da metodologia da história oral em um trabalho de Iniciação Científica.
Reflexões sobre o uso da metodologia da história oral em um trabalho de Iniciação Científica.
A tiririca
A prática do jogo da tiririca foi muito comum ao longo da primeira metade do século XX, na cidade de São Paulo. O nome do jogo tem origem em um mato rasteiro, muito comum em todo o mundo, de difícil controle, que se espalha rapidamente e corta o corpo das pessoas que ralam em cima dele, conhecido popularmente como tiririca.
Acontece que o jogo dos engraxates também possui as mesmas características do mato. Como me explicou Toniquinho Batuqueiro, tendo que ir ao chão para aplicar os golpes ou mesmo em decorrência das quedas, os praticantes do jogo estavam, ao final, todos ralados, donde se dizia que estavam na tiririca. Além disso, a prática do jogo também se espalhou rapidamente pela cidade de São Paulo e seu controle, por parte dos policiais, era muito difícil, desmontando uma roda aqui e outra surgindo logo ali ou, no dia seguinte, no mesmo lugar.
O jogo da tiririca é, por mim definido, como uma roda de sambistas, onde toca-se o ritmo do samba em qualquer instrumento disponível no momento – como caixas de engraxate, tampinhas de latas ou latões de lixo -, ou mesmo só sob o ritmo das palmas dos participantes que, em coro, entoam refrões que remetem às pernadas do jogo. Dentro da roda, dois sambistas de cada vez, sambando, tentam derrubar um ao outro com golpes de perna, sendo o principal deles a banda. Tendo caído um dos participantes, nova dupla entra na roda ou surge um novo desafiante ao vencedor. Um interessante exemplo de canto foi recolhido no depoimento de Seu Carlão:
Genipapo caiu de maduro
Quero ver de fato se esse nêgo é duro

Os cantos constituíam-se geralmente apenas por um refrão cantado em coro, onde as pernadas e
demonstrações de valentia são temas prediletos. Tendo vindo do interior do estado aos dez anos, Toniquinho Batuqueiro relata que o que se cantava na roda de tiririca era geralmente inspirado nas cantigas ouvidas na infância, nas rodas de cururu, jongo, samba rural ou batuque de umbigada. Osvaldinho, por sua vez, atribui forte influência das cantigas cantadas pela avó indígena no seu repertório musical. Desta maneira, sabemos que os cantos e até a dança da tiririca foram influenciados por manifestações originais do interior do estado.
O ritmo batucado, por sua vez, é rasgado, ou seja, numa velocidade acelerada - semelhante à do
samba de roda baiano ou do jongo do interior do estado – que permitia os rápidos movimentos das pernas. Assim, surgem outros ritmos que influenciaram o batuque da tiririca. Procurou-se mostrar assim, que o samba urbano de São Paulo, diferentemente do samba carioca3, cresceu como uma “cultura de rua”, nas praças, estações de trens, largos e ruas menos movimentadas da
cidade, onde os filhos desses migrantes cantavam as canções ouvidas no interior e aprendidas com pais e avós, enquanto batucavam na caixa, seu instrumento de trabalho e tentavam derrubar um ao outro com golpes de perna.
http://www.historal.kit.net/andre_santos_-_teoria_e_metodologia.pdf

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