Sambas, Batuques e Candomblés em Cachoeira - Ba
A construção ideológica da cidade do feitiço
Edmar Ferreira Santos
Salvador – Bahia, 2007
Os termos “samba” e “batuque” apareciam nas folhas quase como sinônimos. Notam-se apenas sutis diferenças em uma ou outra das tímidas descrições locais. Por exemplo, o uso do pandeiro e das umbigadas no samba enquanto nos batuques são freqüentes as referências ao “tabaque” que predominava tocado “valentemente”110. O termo “valente”, por sua vez, esteve por muito tempo associado às práticas culturais afro-brasileiras, notadamente, a capoeira. Muitos capoeiristas ostentavam a alcunha de “valentão”, símbolo de comportamento destemido e garantia de respeito no mundo das ruas111.........................................
Edson Carneiro registra um tipo de batuque que ultrapassava o sentido de puro divertimento e alcançava as esferas da luta corporal. Aliás, como na capoeira, seu jogo podia ser encarado tanto como uma brincadeira quanto como confronto. Assim, Edson Carneiro narra um batuque que, segundo afirmou, derivava de uma “luta africana”. Já na sua época, devido à “ação repressiva da polícia” em Salvador, esse divertimento existia “apenas no interior dos municípios de Cachoeira e de Santo Amaro, no Recôncavo do Estado, e um pouco também na Cidade da Bahia”. Os golpes descritos, “várias pernadas” e a “raspa” (rasteira), e os instrumentos, “pandeiro, ganzá e berimbau”, fez o autor concluir que este batuque era “uma variação da capoeira”112............................................................................
No mês de maio de 1914, no destacamento de polícia estacionado em Cachoeira havia, pelo que se sabe, ao menos um Cabo que batucava. O anônimo policial se encontrava em trânsito para Salvador e, aproveitou o domingo para ir num batuque no Alto da Capapina, sobre o túnel do ramal da Estrada de Ferro Central da Bahia. Segundo o jornalista, era o cabo quem “heroicamente” tocava o atabaque. O articulista não esqueceu de asseverar que o dito divertimento estava proibido na cidade. Ali mesmo, entre o morro da Capapina e o morro do Bitedô, a imprensa também denunciava com freqüência os batuques de um candomblé “há tempos aí existente”.124
111 Sobre os capoeiras como valentões em Salvador, ver: OLIVEIRA, Josivaldo Pires de. Pelas ruas da Bahia: criminalidade e poder no universo dos capoeiras na Salvador republicana (1912-1937). [Dissertação de Mestrado], Salvador: UFBA, 2004.
112 CARNEIRO, Edison. Religiões Negras / Negros Bantos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 3.ª edição, 1991. pp.221-224.
124 “Um policial que batuca”. Jornal A Ordem, 27.05.1914, p.01; “Um policial que batuca”. Jornal A Ordem, 30.05.1914, p.01; “A polícia persegue os feiticeiros: 13 de uma vez só! Que bella ‘canôa’!”. Jornal A Ordem, 09.08.1922, p.01; no capítulo 4, analisamos uma batida policial neste candomblé.
http://www.posafro.ufba.br/_ARQ/EdmarFerreiraSantos.pdf
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